...disse à maçã que
despencou da árvore. Foi um tombo feio, já que ela ocupava um dos lugares mais
altos, da queda restaram os hematomas e algumas certezas.
Estar no topo é ter que
esperar por um árduo tempo até ser colhida, afinal as maças que estão nas
galhas mais baixas são mais fáceis de serem pegas e estão sempre ao alcance das
mãos. É ter que resistir ao sol e a chuva, as pragas e as picadas que enrijecem
cada mais a sua casca. É saber que será uma da ultimas a ser escolhida. E caso
a colheita não seja feita antes do amadurecimento, é saber que ira cair de uma
altura imensa e sentir a dor do tombo. É ter que aguentar resignadamente até
alguém decidir lhe provar mesmo ela estando um pouco machucada, ao solo. É esperar
por alguém que suba até o topo ou que lhe queira mesmo depois da queda, que lhe
aceite com os hematomas, com as marcas das estações e entenda que o seu
amadurecimento não foi um dos mais fáceis e que por isso você deve ser tratada
com o mínimo de delicadeza.
Para muitas maças estar entre
os galhos mais baixos é sorte, é ter a certeza que será colhida rapidamente, mesmo
que seja por qualquer um, é aceitar o que vier. Não é fácil estar no topo. Não
é fácil crescer no topo, assim como não é fácil cair do topo. As maças do topo guardam
em si as marcas de uma vida, de um ciclo. Nascer, crescer, amadurecer, e
resistir até ser colhida. Resistir às
estações ruins e manter o gosto doce, resistir às mordidas não merecidas e se
refazer, resistir às pragas e às larvas, não apodrecer por dentro nem
por fora, e manter o vigor. Por isso as maças que nasceram no topo nem sempre
são as mais atraentes, pois sofreram mais, e tiveram que criar defesas para
sobreviver, contudo, são as melhores, as mais vivadas e mais preparadas para ser
um bom fruto. As mulheres são como as maças, cabe a cada uma escolher o topo ou
a base. E cabe cada homem escolher entre as mais complicadas e as mais fáceis.
14.04.2014
01.58 AM
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